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Esportes

Coluna – Cowboy sonha com medalhas paralímpicas para compensar 2016

Nas mesmas águas da cidade húngara de Szeged onde, há dois anos, garantiu vaga na Paralimpíada de Tóquio (Japão), Fernando Rufino mostrou que é forte candidato a medalha na capital japonesa. O Cowboy de Aço, como ele é conhecido por ter sido peão de rodeio e sobrevivido a vários acidentes, venceu duas das três provas que disputou na Copa do Mundo de Paracanoagem, há uma semana: os 200 metros em canoa (VL) e caiaque (KL) na classe dois, para atletas que utilizam braços e tronco para remada.

Foi o primeiro torneio internacional do qual participou após quase dois anos. O último havia sido o evento-teste da Paralimpíada, realizado em setembro de 2019, em Tóquio. Na ocasião, Rufino foi campeão no KL2 e vice no VL2. Desde então, Cowboy só competiu na Copa Brasil de Paracanoagem, entre os dias 13 e 14 de março do ano passado, em São Paulo, dias após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar a pandemia do novo coronavírus (covid-19) e o calendário da modalidade – e do esporte em geral – ser afetado.

“Quem é atleta, gosta de competir. Quanto mais se treina, mais isso faz parte de você. Você fecha o olho e mentaliza o treino. Com a prova, é a mesma coisa. Quanto mais se compete, mais você consegue mentalizar a prova. Na primeira eliminatória [na Copa do Mundo], estava com meus batimentos cardíacos [variando] entre 120 e 126 por segundo, em média. Estava um pouco elevado, pois é aquela pressão, muito tempo sem competir. Como estou? E meus adversários? Mas depois, fui mantendo o controle, avançando mais tranquilo. Nas finais, o batimento já estava em cem, 110 [por segundo]”, conta o canoísta, à Agência Brasil.

Se tem algo que Rufino acompanha com atenção é justamente a parte cardíaca. Foi por causa dela que, em 2016, o sul-mato-grossense de Itaquiraí, cidade a 340 quilômetros da capital Campo Grande, ficou fora da Paralimpíada do Rio de Janeiro. Em março daquele ano, uma elevação na pressão arterial fez com que o Cowboy precisasse, inicialmente, passar por uma fase de destreinamento (redução no volume das atividades aeróbicas). Quatro meses depois, como não se recuperou à tempo, ele foi cortado dos Jogos, substituído por Igor Tofalini, curiosamente, outro ex-peão que virou canoísta. Foram dois anos até, enfim, voltar ao alto rendimento.

“De tudo na vida, o brasileiro tira algo de proveito. De lá para cá, percebi que me profissionalizei mais. Passei a analisar melhor os treinos, entendê-los melhor, ver a importância de cada passo. Tenho um medidor de pressão e acompanho [a condição arterial] semanalmente. Graças a Deus, os resultados são muito bons. Em Tóquio, competirei em duas provas, caiaque e canoa. Se Deus me abençoar e eu puder ganhar duas medalhas, escreverei 2016 em uma delas [risos]. Vou remar dobrado para ficar mais feliz ainda”, comemora Rufino.

O amadurecimento do sul-mato-grossense se evidencia nas palavras e no entendimento do quanto um detalhe pode fazer a diferença na busca pelas medalhas em Tóquio.

“Em uma competição, sou eu que posso estragar a prova dentro da água, caso me apavore ou desconcentre na largada. A parte mais forte tem de ser a cabeça. No caiaque, espero uma prova ainda mais difícil e delicada [em Tóquio]. É uma prova remada com muita inteligência. [Na Copa do Mundo] O tempo médio [para conclusão] dos 200 metros foi de 41 a 42 segundos, com vento contra. É uma média de 90 a 95 remadas no percurso, ou seja, são duas por segundo. Veja a importância desse segundo. É nele que você respira, concentra para utilizar a força. Quem errar menos, tem maior possibilidade de ganhar, pois todos estarão muito bem preparados”, explica o canoísta.

Por isso, Rufino sabe que nos três meses que antecedem os Jogos, todo cuidado (dentro e fora da água) é pouco. Não é exagero. Ao longo da vida, o Cowboy sofreu a vários acidentes. Já foi atingido por um raio, pisoteado por um touro e atropelado por um ônibus. Neste último, em 2005, lesionou a medula e ficou paraplégico.

“O meu treinador [Thiago Pupo, da seleção de paracanoagem] deu uma semana de folga e pediu, por favor, para eu tomar cuidado em casa [risos]. É que sou peão, né? Em casa, mexo com gado, bato concreto. Mas serão três meses quietinho, focado no objetivo. Três meses de muito detalhe e de pé no chão. A gente treina em Ilha Comprida [cidade do Vale do Ribeira, no interior paulista, a 215 km de São Paulo], em uma bolha, por causa da pandemia. Temos nossa própria academia e barracão de treino, tomando todos os cuidados. Nosso mundo, hoje, é essa bolha. São três meses para escrever o nome na história”, finaliza o Cowboy.

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