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Denúncias contra Prevent Senior foram manipuladas, diz diretor na CPI
O diretor executivo da operadora de saúde Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, disse nesta quarta-feira (22) que ex-funcionários manipularam dados de pacientes da empresa. A afirmação foi feita em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado. Denúncias feitas ao colegiado apontam que a operadora ocultou mortes de pacientes em estudo realizado para testar o tratamento precoce da covid-19, que não tem comprovação científica.
“Esses fatos aconteceram porque o casal George Joppert Netto e Andressa Fernandes Joppert, ex-médicos da Prevent, desligados em junho de 2020, manipularam dados de uma planilha interna, que era planilha de acompanhamento de pacientes, para tentar comprometer a operadora”, afirmou o diretor. O médico acrescentou que uma análise de provas feita pela Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) comprovou a inexistência de infração por parte da Prevent.
Gabinete paralelo
Segundo o relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), médicos que trabalharam na operadora de saúde apresentaram um dossiê em que acusam integrantes de um suposto “gabinete paralelo” de terem usado a Prevent como uma espécie de laboratório para comprovar a tese de que o chamado “kit covid” era eficaz no tratamento de seus pacientes. Segundo a CPI, o gabinete era composto por pessoas que aconselhavam informalmente o presidente da República sobre condutas durante a pandemia.
De acordo com a denúncia, esses pacientes não eram informados do tratamento experimental, o que é ilegal. Benedito Júnior negou as acusações e destacou que, desde o início da pandemia, a Prevent Senior vem sofrendo “acusações infundadas”. No rol de pontos negados pelo diretor está a omissão de mortes pela operadora no estudo e o não afastamento de médicos diagnosticados com covid-19. “Todos os colaboradores suspeitos ou com teste positivo para covid eram imediatamente afastados”, declarou.
Ainda segundo as denúncias, nove pacientes morreram, mas os autores do estudo mencionaram apenas dois óbitos. Segundo o executivo, o documento sobre a prescrição dos medicamentos do kit covid, entre os quais a cloroquina, falava de acompanhamento médico de 636 pacientes entre 26 de março e 4 de abril de 2020. As sete mortes supostamente omitidas, ainda de acordo com ele, ocorreram após esse período.
O estudo que comprovava a eficácia da cloroquina feito pela operadora foi citado pelo presidente Jair Bolsonaro em abril de 2020. Pedro Batista Júnior disse que não enviou informações sobre o levantamento ao presidente. “Foi alguém que teve acesso. Não fui eu”, disse. O diretor da Prevent Senior também negou que a operadora tenha relações com o governo federal ou com membros do suposto “gabinete paralelo”.
Protocolos
Apesar de confirmar que o Ministério da Saúde anexou dentro de suas planilhas protocolos de “tratamento precoce” usados pela Prevent Senior, Pedro Batista Júnior negou contato com a pasta. “Não tivemos qualquer contato para desenvolvimento de qualquer protocolo junto ao Ministério da Saúde”, garantiu.
Apesar de ter optado por responder às perguntas dos senadores, Pedro Benedito Batista Júnior está amparado por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O instrumento garante ao médico o direito constitucional de permanecer em silêncio em questionamentos que possam incriminá-lo.
Medicação milagrosa
Sobre afirmações falsas de que a cloroquina garantiria “100% de cura” contra a covid-19, o diretor executivo afirmou que “não existe qualquer medicação milagrosa”. Apesar disso, ele defendeu a autonomia dos médicos para prescrever “a melhor medida” para cada paciente. “O teste sendo realizado com mais eficácia, o isolamento do paciente e a utilização de tudo o que hoje é sabido podem, sim, amenizar a evolução da doença. A minha observação em relação a qualquer situação de tratamento é que não existe qualquer medicação milagrosa, como todos nós já sabemos”, avaliou.
Exigência de pacientes
Ainda durante o depoimento, o diretor executivo disse que pacientes infectados com a covid-19 passaram a exigir a prescrição da cloroquina após declarações em defesa do medicamento. A declaração foi feita após pergunta do senador Renan Calheiros sobre o impacto “dessa promoção feita pelo presidente da República na decisão da Prevent de patrocinar o uso da hidroxicloroquina”.
“Quem prescreve qualquer medicação é o próprio médico e, naquele momento, como todos recordam, houve, até devido a pronunciamentos não só da Presidência da República, mas de outras pessoas influentes também, uma série de pacientes exigindo a prescrição da medicação. E isso, quando veio diretamente ao encontro dos médicos que estavam na linha de frente tentando salvar a vida dos pacientes, tornou-se uma situação. Como não havia respostas ainda, necessárias para que, após feita a prescrição, houvesse medicação disponível”, justificou o diretor.
Batista Júnior avaliou ainda que “não há problema” e “não há crime” no fato de a operadora oferecer a medicação “após prescrição do médico”.
Atestado de óbito
O relator da CPI lembrou no depoimento o caso de Regina Hang, mãe do empresário Luciano Hang, dono da Havan. Ela morreu em fevereiro, aos 82 anos, no hospital Sancta Maggiore, da Prevent Senior, em São Paulo.
Renan Calheiros exibiu um vídeo em que Hang diz que a mãe poderia ter sobrevivido se tivesse feito o “tratamento precoce” com hidroxicloroquina. Renan qualificou o comportamento do empresário como “macabro” e “repugnante”. “Há uma farsa que será desmascarada aqui. Vamos provar que ele pediu: ‘escondam que minha mãe foi tratada com cloroquina, para não desmerecer a eficácia’. Ele a levou para ser tratada no hospital com cloroquina, e a Prevent Senior ocultou isso”, afirmou o senador.
Outro caso trazido pelo relator, sobre pacientes com covid-19 da Prevent Senior, foi o do médico pediatra Anthony Wong, que morreu em janeiro, aos 73 anos, em São Paulo. Renan apresentou áudio de uma conversa telefônica com trocas de ameaças entre Batista Júnior e um ex-médico da Prevent Senior que denunciou que a empresa teria escondido que a morte de Wong tinha como causa o novo coronavírus.
O depoente confirmou que a doutora Nise Yamagushi era médica assistente e acompanhava Wong, um defensor do “kit covid”. O gestor da Prevent Senior disse que a autonomia médica precisa ser preservada e que não comentaria nenhum caso de pacientes por não ter autorização das famílias para isso.
Kits anticovid
Em outro vídeo exibido na comissão de inquérito, um suposto representante da Prevent Senior afirma que, após assinatura do contrato com a empresa, seria enviado ao cliente um kit anticovid. Nas imagens o representante da empresa afirma que a Prevent Senior quer evitar que o cliente adoeça, porque isso gera custos. Assim, seria enviado aos clientes o kit com ivermectina, cloroquina e outros medicamentos, “para evitar” o adoecimento. “Eram enviadas as medicações prescritas pelos médicos aos pacientes, nunca houve kit anticovid”, disse Pedro Batista Júnior.
Padronização
Batista também rechaçou a afirmação de que a Prevent Senior atuava com prescrições padronizadas para casos de covid-19. “Negativo. [Os remédios] dependeram do paciente e da sua indicação terapêutica.” “Variavam as prescrições, como eu disse para o senhor. Senador, como ficou muito claro para todos, havia prescrição das medicações”, disse. Segundo ele, existia um setor para avaliar “criteriosamente” cada um dos pacientes. “Existiam dois médicos responsáveis e um deles era o doutor Rafael Souza, que, sim, prescrevia as medicações após avaliação de todos os prontuários”, explicou o depoente.
O diretor da Prevent Senior esclareceu ainda que o médico Rafael Souza era responsável pela área da telemedicina e que reavaliava os prontuários de todos pacientes, por isso, assinou grande parte das prescrições.
Pesquisas
Questionado se os laboratórios Vitamedic e Aspen patrocinaram estudos realizados pela Prevent Senior com ivermectina e hidroxocloriquina, o executivo disse “ não ter essa informação”. Sobre a participação da Prevent Senior no “aumento vertiginoso de faturamento” dos dois laboratórios durante a pandemia, o depoente disse que não tem a resposta uma vez que não avaliou o balanço das duas empresas.
Renan Calheiros lembrou que a Prevent Senior comprou 32 mil comprimidos de ivermectina da Vitamedic em 2020 e quase 28 mil entre janeiro e setembro de 2021. No caso da hidroxocloriquina, a empresa adquiriu 600 mil cápsulas diretamente da Aspen durante a pandemia.
CID
Outro ponto abordado pelos senadores foi a orientação veiculada na Prevent Senior para que todos os pacientes com suspeita ou confirmação de covid-19 recebessem, nos prontuários, a CID B34.2, “para que estes possam ser adequadamente contabilizados independentemente do status de exame ou unidade”.
Segundo a CPI, a diretriz da Prevent era que após 14 dias do início dos sintomas (pacientes de enfermaria/apartamento) ou 21 dias (pacientes com passagem em UTI/leito híbrido), a CID — classificação internacional de doença — deveria ser modificada para qualquer outro, de forma a identificar os pacientes que já não tinham mais necessidade de isolamento. Pedro Júnior argumentou que o CID poderia ser modificado após este prazo já que os pacientes “não representavam mais riscos à população do hospital”
“O senhor [Batista Júnior] não tem condições de ser médico, modificar o código de uma doença é crime”, criticou o senador Otto Alencar (PSD-BA).
Simone Tebet
Logo no início da reunião de hoje , o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), manifestou solidariedade a Simone Tebet (MDB-MS) pelo episódio de ontem em que ela foi chamada de “descontrolada” pelo ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, que depôs à comissão. “A senadora Simone nunca faltou com o respeito com nenhuma pessoa que veio aqui ser ouvida. Pelo contrário, ela é firme e traz fatos para mostrar quando está fazendo um questionamento” ressaltou Aziz, apoiado por diversos senadores.
“Como mulher, cidadã e mãe, pra mim isso é página virada. Como líder da bancada feminina, é preciso que esse episódio venha a público pelo menos no caráter educativo”, observou Simone.
O senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) também prestou apoio a Simone Tebet, mas destacou que o ministro Wagner Rosário, desde o princípio de seu depoimento, foi por várias vezes atacado. Segundo Heize, o relator chamou Wagner de mentiroso e outros o nomearam de “moleque” e “vagabundo”.
Ontem mesmo, Wagner Rosário pediu desculpas à senadora Simone Tebet. “Senadora Simone Tebet. Apesar de tê-lo feito pessoalmente, reitero meus pedidos de desculpas caso minhas palavras tenham lhe ofendido. Às vezes, no calor do embate, somos agressivos inconscientemente. Estendo minhas desculpas a todas mulheres que tenham se sentido ofendidas”, disse o ministro por meio do Twitter.