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PRATA DA CASA: Professor Doutor Anderson Marques Moraes
“Para bons resultados, é preciso aliar condição física e ciência”, defende o professor, cujo sonho é que o Brasil tenha as mesmas condições disponíveis para o treino esportivo e a busca por excelência existentes nos Estados Unidos.
O ciclo do empirismo se foi. Há tempos. Associar a prática ao conhecimento é uma vertente cada vez mais viva e respeitada no esporte. O mecanismo, ainda incipiente no Brasil se comparado aos países mais avançados, tem apresentado perspectivas interessantes.
A Prefeitura de Campinas, por intermédio da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer(Smel), conduz projetos desenvolvidos pelo professor doutor Anderson Marques Moraes, servidor público desde 2002. Ele insere praticantes de atividades esportivas e atletas dentro da Unicamp e da Pucc, que coletam informações sobre a performance de cada um. Os dados coletados são transformados em abrangentes pesquisas, voltadas à qualidade de vida dos idosos e também à potencialização do rendimento dos jovens.
A melhoria do desempenho dos atletas campineiros nas quadras, campos, ginásios esportivos e piscinas, está diretamente ligada aos equipamentos que impulsionam a prática de cada modalidade. Mas é preciso ampliar. O conceito de que a parte física representa 90% no resultado final não tem a mesma força de décadas atrás. Pelo contrário, o cognitivo – o conhecimento, o raciocínio – já é reconhecido como um componente indispensável para a obtenção de resultados mais expressivos.
Frentes de atuação
Anderson Marques é coordenador de Esporte de Rendimento na Smel. Formado em Educação Física pela Pucc em 1992, fez mestrado na Universidade Metodista de Piracicaba, em 2003; na Unicamp, chegou ao doutorado e pós doutorado na Faculdade de Medicina, em 2008 e 2019, respectivamente.
Atua como professor e pesquisador. Os trabalhos desenvolvidos são voltados para a amplificação do esportes na vida dos idosos, atletas e alunos.
As disciplinas exercidas pelo professor Anderson estão sempre relacionadas à avaliação física e à biologia, porque poderão ser oferecidas, por exemplo, aos grupos de praticantes de atividades físicas. Entre estes, os integrantes da melhor idade, já que são recursos interessantes para obter ganho na qualidade de vida.
O projeto destinado aos idosos que frequentam aulas oferecidas pela secretaria de Esportes e Lazer foi iniciado há dois anos, mas foi suspenso por causa da pandemia. A retomada ocorreu em dezembro passado e já está na fase final de coleta de dados.
“ Este estudo vai nos permitir saber a real composição corporal do(a) aluno(a) e levantar um índice chamado “ângulo de fase” relacionado à estrutura de cada célula, ou seja, verificar o estado nutricional de cada um. Aí você pode direcionar as atividades em cima dos resultados”, explicou o professor.
Adolescentes e atletas
Outro trabalho importante do professor Anderson na Unicamp é voltado aos adolescentes e atletas, na faixa etária de 11 a 25 anos. É destinado ao alto rendimento, com olhar voltado para equipes e agremiações da cidade. “Neste caso, é avaliada a densitometria óssea. As imagens associam a prática do esporte com desenvolvimento do tecido ósseo, bem como da composição corporal. A gente consegue passar ao técnico, por exemplo, quem ainda vai crescer e quem já passou por esta etapa. É possível fazer esta projeção. A regra é sempre dar o retorno do conteúdo ao responsável”, ressaltou o professor.
Os artigos são publicados em revistas internacionais e apresentados também em veículos especializados, como o International Journal Sports Science & Coaching. Em janeiro, no mais recente trabalho divulgado, foram ouvidos 90 jogadores de basquete que atuam em equipes do Estado de São Paulo. O questionamento foi o seguinte: com os jogadores ficando muitas horas sedentários, no dia, o período de treinamento cumprido era suficiente para não perder a massa óssea?
“Queríamos saber quanto tempo eles ficavam frente à tela: computador, celular, TV, e se haveria ou não necessidade de ampliar o treino, pelo longo tempo de comportamento sedentário. A constatação foi que três ou quatro horas de treinamento no dia são suficientes para não alterar a massa óssea e manter a boa composição corporal”, analisou o professor Anderson.
Esporte na escola
Implementar o modelo da prática esportiva aplicado nas escolas e universidades norte-americanas no Brasil é um dos sonhos do professor. Um passo complementar seria a criação de Centros Esportivos de Alto Rendimento alinhados com as faculdades de Educação Física. Tudo funcionando de forma integrado. O atleta no habitat de trabalho e, ao lado, as áreas destinadas à musculação, condicionamento físico, fisioterapia e parte médica.
“Aí entra a Ciência do Esporte. Espaço para a fisiologia, laboratório, com monitoramento sobre tudo que estiver sendo feito. Produzir resultados para a literatura, para podermos manter arquivos, contribuir, e dar a todos acesso ao melhor. Não se faz ciência sem unir a prática com a teoria”, conclui o professor Anderson Moraes.