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Nossa Cidade

Pratas da Casa: Mônica Leite Aranha Ferreira é servidora há 36 anos

A herança genética foi integralmente respeitada na formação profissional da professora de Educação Física Mônica Leite Aranha Ferreira, que herdou do pai, Luís Gonzaga, a paixão pelo esporte, e da mãe, dona Hellenice, a responsabilidade do servidor público junto à comunidade.

Aos 57 anos de idade, ela trabalha na Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de Campinas  com tempo suficiente para requerer a aposentadoria, mas as aulas ministradas aos alunos da terceira idade, no Centro de Vivência dos Idosos (CVI), no Taquaral, funcionam como um gerador de energia que alimenta todas as partes envolvidas. Não são raros os casos de melhoria da saúde física, do humor e da relação social, tendo por meio da dança, principalmente, uma atividade altamente necessária para as pessoas de 60+.

No dia a dia, atua também na parte administrativa da pasta, em que assessora e cuida da agenda do secretário de Esportes e Lazer Fernando Vanin, parceria iniciada há seis anos.

Infância marcante

A rua Costa Aguiar foi o porto seguro da família, quando os avós maternos acolheram a mãe Hellenice, grávida de Mônica, e a irmã Sílvia Raquel (ainda bebê), depois do trauma pela morte precoce do pai Luís Gonzaga Leite Aranha, aos 29 anos de idade, corretor de imóveis e atleta amador de vôlei do Clube Campineiro de Regatas e Natação.

A fatalidade mudou radicalmente a trajetória da família Leite Aranha, porque sem a referência paterna no início da vida, se apoiaram nos valores e laços de convivência dos avós maternos.

A vida ganhou contornos muito próprios das culturas italiana, espanhola e portuguesa, com influências baseadas na gastronomia das animadas reuniões de almoço aos domingos na casa da Nona, regada com macarrão caseiro e músicas de vários gêneros.

O apreço aos antecessores pelo amparo e segurança no primeiro período de vida recebidos da corrente materna e a paixão pelo esporte legado do pai, começaram a traçar um estilo de vida da jovem Mônica, mesmo ainda sem ter certeza sobre a melhor escolha profissional para encarar o mercado de trabalho.

A música sempre muito presente na geração dos anos de 1960, despertou na adolescente, uma grande afinidade com os ritmos e os sons. Frequentou academias da época e descobriu a importância da melodia na vida das pessoas, responsável por transformações incríveis não só na parte física, como também na espiritual.

Dupla jornada

Em 1987, Mônica Aranha foi admitida na Secretaria Municipal de Transportes de Campinas, como assistente administrativa, depois de uma prova com questões da língua portuguesa, de matemática e  datilografia, indispensável na época. A passagem foi rápida, de poucos meses, porque logo no ano seguinte entrou na PUC Campinas, onde cursou a Faculdade de Educação Física.

Como tinha pretensões de trabalhar na área imediatamente, fez uma entrevista no então Departamento Municipal de Educação Física Esportes e Recreação (DMEFER) da Prefeitura de Campinas e logo na sequência começou a dar aula na Praça de Esportes da Vila 31 de Março. 

A aula era basquete e, como o conhecimento na área era incipiente, Mônica teve que acelerar para não comprometer a imagem. “Eu não tinha domínio sobre a modalidade. Saí pelas livrarias e comprei tudo que se referia a literatura do esporte. Foi um aprendizado inesquecível ”, conta.

Nas quadras, a equipe correspondeu e no Torneio Inter Praças daquele ano, a praça de esportes do 31 de Março ficou com o título. Segundo a professora, muito em função dos jogadores. “Tinham boa técnica e obediência tática”, relembra.

Em 1989, o sistema passou a ser generalista, ou seja, os profissionais habilitados poderiam ampliar o período de atuação nas praças com aulas de várias modalidades. Com a permissão dos gestores do DMEFER, a 31 de Março passou a ter aulas noturnas com os professores Kiko, Cleiton, Ivo, Silvana e Silvia. Para entrar na escala de trabalho à noite, Mônica transferiu o curso da faculdade para o período da manhã e na praça criou um grupo de danças voltado para adolescentes e ginástica aeróbica destinada a todos os moradores do bairro, incluindo os idosos.

Um novo direcionamento

As experiências vividas na faculdade, com destaque para as orientações do professor Ricieri Dezem, definira um novo direcionamento para Mônica. “Um ícone da educação esportiva em nossa cidade”, define Mônica, proporcionaram uma escolha pouco convencional: o esporte de participação.

Assim, diferentemente da competição, do trabalho intenso para buscar sempre a vitória, optou pela presença da música nas aulas, do sincronismo do corpo, do movimento feito com leveza e dos benefícios que este tipo de atividade proporciona na vida de todos.

Os ensaios iniciais foram feitos dentro de casa com a avó Maria Renzulli Cruz Fernandez. Dona Maria, que tinha reumatismo e artrose, depois de alguns meses de treinamentos diários, apresentou significativa evolução. “Melhorou muito a disposição e a mobilidade”, afirma Mônica.

Testado e aprovado na família, não perdeu tempo e expandiu a ação para as alunas jovens e também aos idosos das praças de esportes dos bairros 31 de Março, Padre Anchieta, Boa Vista, Barão Geraldo, Jardim Nova Iorque e Taquaral.

Apreço aos idosos

O aumento da população idosa começou a receber, no fim do século passado, uma atenção especial das autoridades de todo o mundo. Campinas está inserida no contexto em todos os segmentos e no esporte, não é diferente. No Taquaral, o Centro de Vivência dos Idosos (CVI) o espaço é bastante frequentado e as aulas da professora Mônica, às segundas-feiras, das 8h15 às 9h30, tem uma frequência de 80 a 100 alunos.

Mas o início foi de resistência, porque a turma não queria a saída do professor Kiko, que optou por redirecionar a carreira, e a professora Mônica foi a escolhida para substituí-lo. “No primeiro dia, quando avisei que eu estava assumindo as aulas, todos saíram na sala. Somente a dona Luiza ficou no espaço. Dei a aula normalmente. Dançamos, nos divertimos bastante. No dia seguinte, tudo voltou ao normal e continuamos firmes e dispostos, toda semana”, relembra.

A boa convivência fortalecida pelas relações que permitem a programação e, principalmente, a concretização de projetos na teceira idade, são nutrientes indispensáveis para a saúde física e mental, avalia Mônica. “Fico muito feliz porque minhas alunas e alunos, efetivamente, voltaram a viver. E a ensinar. Aprendi com eles que apesar da complexidade dos anos vividos, quando se trabalha o corpo, fortalece a alma e o coração. A música é um instrumento poderoso de renovação”, conclui a professora Mônica Aranha, servidora pública há 36 anos.

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