Nossa Cidade
Pratas da Casa: professor Sebastião Velardi Júnior
O educador Sebastião Velardi Júnior, o Tiãozinho, servidor público municipal da Secretaria de Esportes e Lazer, está a poucos meses da aposentadoria. Dezembro pode ser o mês chave para ver concluído um ciclo de 36 anos, rico em desafios, projetos, um pouco de teimosia e muitas realizações.
Capacitado pela Confederação Brasileira de Vôlei como técnico nível 3, o professor está credenciado a trabalhar como técnico em todas as equipes profissionais do país. Defensor convicto dos pilares esporte e educação como protagonistas transformadores de vidas, enfatiza sempre que este binômio pode contribuir para a construção de uma nação desenvolvida.
A experiência adquirida ao longo dos seus 58 anos é um indicador de que as modificações, muitas vezes, resultam de caminhos que a vida apresenta. O garoto peralta, avesso aos estudos, começou com a paixão pelo esporte o seu caminho rumo ao conhecimento. Uma fórmula que resultou em evolução individual e, principalmente, coletiva, ao tornar-se um professor de Educação Física absolutamente convencido da importância do seu trabalho junto aos alunos, começando ainda no período da infância dos aprendizes.
Minhocão aos domingos
O Jardim Leonor foi o berço da família Velardi, com o pai Sebastião e a mãe Léia trabalhando duro para dar conforto, educação e bem estar aos filhos Tiãozinho, Léo, Estela e Fábio. E se tinha uma coisa que unia a molecada era o grande apreço ao futebol.
O Guarani, clube do coração do chefe da família, recebeu os garotos Velardi, que disputavam torneios internos entre os associados. Durante a semana, a presença deles nos campinhos da região era frequente e, quando não tinham compromisso no clube, aos domingos, o Minhocão- nome da oficina mecânica do patrono do time-, formado pela garotada do bairro, fazia jogos por onde aparecesse adversário. Uma Kombi e uma Brasília transportavam a galera.
Nesta fase, Tiãozinho começou a perceber que o vôlei provocava um sentimento diferente se comparado ao futebol. A bola nos pés era moda. Nas mãos, ela se transformou em paixão. Ainda disputou a 3ª Divisão do Campeonato Paulista pelo Capivariano, mas o amor pelas quadras foi mais forte.
Teimosia de convicto
Este encanto surgiu na Praça de Esportes Pompeu de Vitto, quando, ainda adolescente, a turma se reunia para conversar, jogar vôlei e paquerar as estudantes que assistiam às brincadeiras ou simplesmente aguardavam a aula de educação física. O tempo passou e a rotina descompromissada, sem perspectiva, deu lugar a uma nova fase.
Corria o ano de 1986 quando Tiãozinho procurou a professora da praça de esportes Maria Leda Albino Ferreira e pediu uma oportunidade para dar aula de vôlei aos alunos que frequentavam o espaço público. Mas como seria possível, sem um curso superior? Sensibilizada com a insistência de Tiãozinho, dona Leda o encaminhou à secretaria de Esportes para falar com Renato Petta, coordenador da modalidade.
Depois de se comprometer a concluir o colegial- o ensino médio na época- e cursar Educação Física, foi nomeado como monitor voluntário. E lá foi ele de camiseta, short, apito e prancheta nas mãos: “O dinheiro era pouco, mas foi o passo inicial. Como auxiliar da professora Leda passei também a conviver diretamente com alguns ícones do esporte de Campinas”, lembrou Tiãozinho, se referindo a Conceição Geremias, Pádua Báfero, Adriana Lima, Angélica Beraldo, Filomena Bérgamo. Atletas, ex-atletas, técnicos, figuras marcantes do esporte da cidade.
A motivação ficou ainda mais forte quando o time da Praça de Esportes Pompeu de Vitto, treinado por ele, ganhou um campeonato interclubes, diante de adversários com muito mais recursos. Tiãozinho passou a ser tratado e respeitado como um jovem de grande potencial, entre os educadores e
profissionais ligados ao vôlei.
O Esporte ensina
O bom trabalho na secretaria de Esportes abriu perspectivas. O servidor público Tiãozinho foi aprender para melhor ensinar. Perto dos 30 anos, cursou Educação Física na Pontifícia Universidade Católica de Campinas – Puc Campinas – e passou a valorizar ainda mais conhecimento. As oportunidades se ampliaram, a carreira decolou e ele passou a atuar também em clubes. Foi campeão na Bélgica com a Melhoramentos- a equipe de vôlei profissional de Campinas-, disputou competições em outros países e ganhou prestígio junto à Confederação Brasileira de Vôlei – CBV.
Por intermédio do campineiro Maurício Lima – um dos maiores levantadores do mundo, hoje embaixador do Vôlei Renata- a CBV destinou a Campinas a implementação do projeto Viva Vôlei. Os alunos de ensino fundamental da Escola Municipal Professor Vicente Rao, no Parque Industrial, treinavam com ele na Praça de Esportes Pompeu de Vitto, localizada no Jardim Nova Europa.
O retorno foi impressionante: dentro da quadra, equipes muito competitivas e vencedoras. Na sala de aula, alunos concentrados, com melhoria significativa no aprendizado e a valorização de cidadania, com um episódio marcante, como revela o Professor Tiãozinho: ”além dos equipamentos como bolas, redes, profissionais capacitados garantidos pelo projeto Viva Vôlei, a gente tinha estrutura para competir em outras cidades. E numa etapa do vôlei de praia, foram as 50 crianças que apresentavam os melhores rendimentos em todas as disciplinas. A Mayra, uma das nossas pequenas, conheceu o mar com o nosso grupo. Um momento emocionante, inesquecível, que rendeu reportagem na tv e também no site da Federação Internacional de Vôlei” relembrou.
A melhor herança
O ciclo do educador Tiãozinho ligado à Secretaria Municipal de Esportes e Lazer está programado para terminar ainda este ano, quando se aposenta. Mas a trajetória construída é sólida e vai deixar seu legado. Tem como alicerce a gratidão pela convivência com os colegas e, principalmente, o reconhecimento de ex-alunos, que hoje são mães, pais e profissionais mais bem preparados para encarar os desafios do dia-a-dia.
Defensor obstinado do esporte dentro das escolas, é enfático: “o Esporte Educacional é o caminho de futuro para a nação. O conjunto formado por disciplina, responsabilidade e bons hábitos não fica completo sem o esporte. A escola forma cidadãos e atletas. Existem outros modelos, mas esse é o que está mais próximo de nós”, finaliza Tiãozinho.