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Sisnov alerta sobre aumento da violência em faixas etárias mais vulneráveis
A 16ª edição do Boletim Sisnov (Sistema de Notificação de Violências) de Campinas alerta sobre o aumento de notificações dos casos suspeitos ou confirmados de violência em crianças, adolescentes e idosos, portanto, faixas etárias consideradas mais vulneráveis.
O levantamento divulgado pela Secretaria de Saúde nesta quarta-feira, 13 de dezembro, é o mais detalhado da série histórica e faz parte da série de ações em comemoração aos 250 anos de Campinas, em julho do próximo ano. A elaboração foi feita em parceria com as áreas de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, de Educação, e de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública de Campinas. Confira abaixo detalhes.
Recorde de notificações
O documento, com dados de 2018 a 2022, mostra que os registros diminuíram no início da pandemia de covid-19, mas tiveram crescimento significativo a partir do recrudescimento dela, a partir de 2021, conforme houve avanço da cobertura vacinal contra a doença.
“A violência é complexa e muitas vezes estigmatizada e de difícil condução. Precisamos falar mais sobre esta temática e o boletim consegue, em partes, demonstrar este perfil e onde devemos atuar de forma a garantir uma sociedade mais justa e livre da violência”, avaliou a responsável técnica pelo Sisnov, Juliana Bassul. A primeira apresentação das estatísticas foi realizada segunda-feira, 11 de dezembro, no Salão Vermelho do Paço.
Desde 2009, quando teve início a série histórica, Campinas registrou 24.628 notificações. O sistema indica tendência de crescimento, com exceção dos anos de 2019 e 2020.
Com o aumento significativo a partir de 2021, a cidade contabilizou 2.886 notificações em 2022, o maior já registrado desde que o boletim passou a ser usado pela Administração. Neste grupo estão 2.713 residentes de Campinas, dos quais 65 foram atendidos em serviços de fora da cidade, e 173 pessoas de outros municípios atendidos na metrópole.
Ainda no intervalo de 2021 até o ano passado, o sistema verificou aumento de casos em todas as faixas a partir de 10 anos – referência para início da adolescência por conta do ciclo de vida e diferente da divisão etária feita pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
No intervalo de 2018 a 2022 foram 10.659 notificações, o equivalente a 43,2% do total.
“O maior número de notificações [nestes quatro anos] foi realizado pelas unidades da Secretaria Municipal de Saúde, com 5.641 notificações (54%), seguidas pelas unidades da Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, com 3.144 notificações (30%), e pela Unicamp/Caism, com 835 das notificações (8%). Esses três grupos são responsáveis por 90,3% das notificações”, informa trecho do boletim
Considerando-se apenas os residentes em Campinas, o total de 2022 também foi recorde.
Notificações residentes em Campinas
2019 – 1.818
2020 – 1.642
2021 – 2.168
2022 – 2.713
Notificações gerais (inclui pessoas de fora)
2019 – 1.931
2020 – 1.747
2021 – 2.306
2022 – 2.886
PERFIL DE RESIDENTES EM CAMPINAS
Violência em crianças e adolescentes
O levantamento mostra que, a partir de 2021, o número de notificações aumentou para crianças e adolescentes. No ano seguinte, em contrapartida, houve redução de casos no grupo de crianças, enquanto que para o de adolescentes verificou um novo aumento.
Desde 2018, a maioria das notificações de violência contra crianças e adolescentes foi para vítimas do sexo feminino, sendo 55,1% de crianças e 63,4% de adolescentes. Com relação ao tipo de violência registrada, as notificações de crianças foram principalmente a negligência, em 42,7%, seguida de violência sexual, que representou 27,3% do total.
Já em adolescentes, o tipo de violência notificado com maior frequência foi a violência sexual, em 23,2%, e na sequência aparece a tentativa de suicídio, com 20,8%.
Nas estatísticas sobre crianças, os principais autores foram os cuidadores diretos (mãe, pai, madrasta, padrasto), e para adolescentes foram os próprios indivíduos, informou o boletim.
Violência em mulheres
O levantamento enfatiza que “a violência contra mulheres é um importante problema de saúde pública que vem apresentando aumento expressivo desde o ano de 2020 para todas as faixas etárias”. A predominância de casos está na faixa etária de 30 a 59 anos.
A violência notificada com maior frequência foi física, com 46,3% do total, seguida das tentativas de suicídio, com 27,5% e tendência de aumento nos últimos dois anos.
Sobre o autor, “nota-se aumento considerável naquelas em que a própria pessoa foi responsável, com 31% das notificações em 2022, dado importante para ser analisado em conjunto com o aumento de notificações por tentativas de suicídio a partir do ano de 2020.”
O cônjuge como autor representou, em 2021 e 2022, respectivamente, 24% e 25% do total de notificações. Já quando associados cônjuge e pessoa com relação próxima ou familiar, os valores foram 37% e 39%, o que demonstra proximidade do agressor com a vítima.
Violência em idosos
Ainda considerando-se o período de 2018 a 2022, as notificações de violência contra pessoas de 60 a 69 anos foram responsáveis por quase metade do total. No último ano, também houve aumento para faixas de 70 a 79 anos, e para 80 anos ou mais.
As principais vítimas foram do sexo feminino ao longo dos anos analisados.
O tipo de violência mais notificado em idosos foi a física, com 35,4%, seguida da negligência, com 23,7% do total. O ano de 2022, especificamente, se destacou pelo aumento do número de notificações de violência física, negligência e tentativa de suicídio.
“Ao analisar os autores das violências contra a população idosa foi possível verificar que mais da metade das notificações envolveram, como autores, pessoas próximas à vítima. Com predominância de filhos e netos como principais autores”, informa o levantamento.
Suicídio
Houve aumento acentuado e progressivo das notificações por tentativas de suicídio em Campinas de 2020 a 2022, e a maioria das notificações, no período, envolveu a população do sexo feminino. “Foi possível observar, ainda, que a maioria das notificações de tentativa de suicídio ocorreu em indivíduos de 20 a 59 anos, e que residiam no distrito Sul”, diz texto.
Conclusões e o que está sendo feito?
Diante do novo Boletim Sisnov, o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) destacou a importância da continuidade do processo de articulação e organização da rede de combate à violência, e das ações de vigilância para definir estratégias de enfrentamento.
“A notificação se revela como uma ferramenta fundamental para compreender o perfil da violência, possibilitando intervenções e ações preventivas. A abordagem intersetorial e a formação de redes para o atendimento de pessoas em situação de violência são indispensáveis para conduzir ações efetivas de prevenção e promoção da saúde.”
O Devisa reiterou que as secretarias têm realizado trabalho contínuo de sensibilização para o tema para aprimorar a qualidade dos dados de violência e fortalecer a rede de cuidado “ressaltando a importância de abordagens diferenciadas nas escolas, unidades de saúde e demais serviços, promovendo uma escuta qualificada e protegida”.
Sobre o boletim Sisnov
Neste sistema são realizadas notificações dos casos suspeitos ou confirmados de violência do tipo interpessoal, intrafamiliar ou urbano-comunitária (contra as mulheres, crianças e adolescentes, idosos e violência sexual), e violência autoprovocada (tentativa de suicídio), atendidos pela rede municipal intersetorial de enfrentamento e prevenção às violências.
A rede municipal que usa o Sisnov/Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) como ferramenta para notificação é composta por unidades da Saúde, serviços de saúde da Unicamp e conveniados/particulares, por serviços da Assistência Social, unidades de Educação, Segurança Pública, Conselho Tutelar e dados de mais municípios.
250 anos
A inauguração da nova sede do CS São Vicente integra a série de ações para as comemorações dos 250 anos de Campinas. Até o dia 14 de julho de 2024 a Prefeitura anunciará 250 realizações, uma por dia, em todas as áreas, para oferecer mais qualidade de vida para cerca de 1,1 milhão de habitantes que vivem na cidade, além de quem vem para trabalhar e passear.